O TEU AMOR
Olavo Drummond
O teu amor, meu amor,
foi uma adorável criança
que de brincar se cansou
das ânsias do meu querer.
Gastavas as madrugadas
à busca de frios nadas
fugindo do meu fervor...
Tinha eu um viver tenso
por cultivar sempre o medo
de um dia perder-te cedo,
perdendo assim meu amor.
Trazias-me pesar imenso
ao ver-te, em contrário senso,
fazendo do amor brinquedo,
sempre entregue ao folguedo,
dizendo ser eu rochedo
e eras tu ondas do mar...
Nessa peça sem enredo,
hoje te digo, Rainha.,
nesse namoro com as águas
no seu ir, no seu voltar,
não serei rocha marinha,
que a saliva de um beijo,
mesmo ardendo em desejo,
possa um dia lavar...
Se a solidão vem à tona
e o grande azul te abandona
às águas do desencanto,
é`que não tens mais brinquedo,
o mar cobriu o rochedo
e misturou-se ao teu pranto...
Bateste, então, à minha porta,
buscavas lembrança morta
querias outra aventura,
e não hás de tê-la jamais...
Viverei, em outras plagas,
em terra que jamais vi,
vou esquecer amarguras
que ao teu lado sofri...
deslembrarei dos pesares,
das torturas singulares
que tanto, tanto aplaudias
com cinismo de Caim.
Foram a razão dos teus dias,
Mas consagrados a mim...
Como não sei ser alguém,
sendo regalo de infância,
aderi, logo, à inconstância
de não amar mais ninguém.
Este, o melhor dos meus planos,
para driblar os enganos
e ser fiel ao meu dia,
Vou buscar outros regaços,
na imensidão dos espaços,
nos braços da ventania...
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